A DC Comics, editora responsável pela publicação de quadrinhos de personagens como Super-Homem e Batman, começa hoje a quebra de um ritual americano. Agora, os quadrinhos digitais poderão ser baixados nos tablets no mesmo dia de sua chegada às bancas, sempre às quartas-feiras.
O movimento demonstra como, aos poucos, as editoras de histórias em quadrinhos começam a enxergar nos tablets uma possível alternativa ao cada vez mais fraco mercado de vendas de HQs em bancas --em maio deste ano, o número de vendas caiu 15% em comparação ao mesmo mês de 2010. Nos EUA, onde a tradição da loja de quadrinhos existe há décadas, os lucros diminuem cada vez mais.
Porém, há um receio entre especialistas. Em artigos na revista "Wired" de julho, Douglas Wolk, autor de livros sobre HQs, argumenta que o iPad pode ser a revolução ou a destruição do meio. Para ele, a praticidade e a versatilidade são pontos positivos, mas o fim das lojas de quadrinhos e a obrigatoriedade do tablet para consumo digital são pontos perigosos.
André Conti, editor da Companhia das Letras e colunista da Folha, entende o temor. "As pessoas estão preocupadas, porque a venda em papel ainda é a que dá dinheiro. E as principais editoras, como DC e Marvel, pagam muito bem os artistas, é um processo caro", diz.
Mas, para ele, não há como escapar do digital. "É como ver o carro passando e querer comprar a carroça. É óbvio que tem que entrar [no iPad]. O maior receio das editoras é a concentração de todo o material numa só loja, com o sistema de partilha com a Apple [a empresa recebe 30% das vendas editoriais dos aplicativos para iOS]".
Para entrar no mundo digital, as editoras apostam na criação de David Steinberger, o ComiXology. Desde 2009, o aplicativo Comics vende quadrinhos para iPhone. Apesar da tela pequena, Steinberger criou um sistema de visualização quadro a quadro que consolidou seu projeto.
Após o lançamento do iPad, as editoras enxergaram uma oportunidade de ouro. Em vez de criarem seu próprio software, DC, Marvel e Image pediram que Steinberger criasse aplicativos específicos de suas lojas e continuasse vendendo as obras em seu próprio app.
Porém havia a limitação de não poder comprar edições atuais --o intuito era proteger a venda das bancas. Até hoje, dia em que a DC Comics quebra a barreira entre papel e digital.
Editoria de Arte / Folhapress
Enquanto isso no Brasil...
Apesar das mudanças radicais no cenário americano, o formato de venda de HQs no Brasil ainda será o mesmo pelos próximos anos.
A Panini, que publica quadrinhos da DC no país, informou, por meio de sua assessoria, que estuda o formato digital, mas não tem nada a declarar no momento.
Se nos quadrinhos semanais o processo será mais lento, as graphic novels, obras mais complexas e vendidas em formato de livros, devem ser digitalizadas com maior velocidade.
"Existe um caminho novo, que ainda estamos estudando. A possibilidade de unir os leitores por meio de aplicativos, comentários e redes sociais é algo muito interes-sante", diz André Conti, editor da Companhia das Letras e colunista da Folha. Segundo ele, os artistas também têm interesse na transposição, e há poucas dificuldades em transformar os quadrinhos de papel em obras digitais.
A Conrad, primeira editora a lançar quadrinhos no iPad, confia no formato. "Ele não vem para substituir o papel, e sim para complementar e trabalhar como uma nova forma de divulgação de vários artistas", diz Rogério de Campos, diretor editorial da empresa.
Fonte: FOLHA TEC
Abraços,
Ricardo Aguero